

Minas Gerais, no século XVIII, tinha as atenções voltadas para a extração de pedras e metais preciosos. Diversas tropas de gado e comerciantes itinerantes cruzavam o Brasil colônia para abastecer as regiões que não investiam na agropecuária e insumos.
Na rota dos tropeiros que desciam da Bahia, estava um ribeirão famoso pela quantidade de onças do entorno (Ribeirão do Onça) e um povoado, conhecido como Clementes de Santo Antônio, de acordo com o livro “Canteiro de Saudades”, de Benvindo Lima, publicado em 2001.
À medida que as tropas passavam em direção ao Curral D’el Rey, entre as décadas de 1700 e 1720, o povoado crescia às margens da antiga estrada. Documentos antigos remetem a uma pequena capela (ermida) existente no local, em meados de 1711.


O registro mais conhecido é uma correspondência, datada de 1787, endereçada à rainha de Portugal (Dona Maria I), na qual é solicitada autorização para constituir no povoado uma capela em homenagem a Santo Antônio de Lisboa, pois os fiéis dali careciam de “pasto espiritual”.
Em prol dos devotos daquele local, em 1803, foi doada para a ermida de Santo Antônio (Clementes de Santo Antônio) uma grande parte da fazenda Antônio Crasto (Castro) Porto. A doação do patrimônio propiciou, em agosto de 1809, a autorização do Bispado de Mariana para a construção da capela.
Com a frequente passagem dos tropeiros e uma paróquia dedicada a Santo Antônio, o povoado cresceu e o comércio aumentou. Segundo herança oral, próximo à ponte da antiga Rua Direita (atual Rua Padre Pedro Pinto), que passava sobre o córrego Borges (coberto pela atual Rua Dr. Álvaro Camargos), surgiu uma nova venda que tinha de tudo — querosene, temperos, couro, arroz, toucinho etc.
A freguesia de tropas foi responsável por popularizar a região e a capela com o título de venda nova. Até os próprios fiéis adotaram o nome. Mais tarde, o povoado dos “Clementes de Santo Antônio” virou o distrito de Venda Nova, pertencente à Comarca de Sabará.


Tudo passou a se chamar Venda Nova, até a paróquia virou “Santo Antônio de Venda Nova”. Ali, o padre José Luiz Diniz conduziu os devotos nas celebrações de missas até o ano de 1924.
Em 1925, o local já era um arraial e uniu-se à comarca de Belo Horizonte, nova capital de Minas Gerais. Mas, de acordo com ex-tabelião Hugo Fróes, no livro “O distrito de Venda Nova e um pouco da sua história”, de Geraldo Lisboa, por questões políticas com o governador Benedito Valadares, foi desligada e dada novamente, em 1939, a Santa Luzia.
O nome mais conhecido entre os párocos à época foi o padre Pedro Pinto. Ele era famoso por ser bondoso, ser um eloquente orador e um ousado líder. Esteve na paróquia entre 1924 e 1953.
Durante o período de permanência, o padre foi o primeiro entre as batinas a tirar a “Carta de Chauffeur” na capital. Ganhou um carro, um Ford 1928, o qual apelidou de “furreca”, e subia e descia a rua Direita, que passava em frente à igreja matriz.
Celebrou missas na paróquia durante quase três décadas e, quando a igreja estava muito velha, amarrou cordas nas paredes e na furreca, acelerou fundo e derrubou tudo. Em seguida, ergueu as mangas e construiu um novo templo, com campanário e casa paroquial. Nos fundos, no alto da Rua da Matriz, fez o primeiro cemitério.


As pessoas tiveram tantas dificuldades burocráticas pela distância entre Venda Nova e a prefeitura de Santa Luzia, que o pai de Hugo, o senhor Antônio Rodrigues Fróes, e os moradores prof. Antônio Gomes Horta, Dr. Álvaro Celso da Trindade e José Augusto Freitas organizaram uma reunião com o governador Milton Soares Campos em 1948.
No episódio, o governador ficou sensibilizado e decretou que a região voltasse a fazer parte de Belo Horizonte em dezembro do mesmo ano. Em seguida, na década de 1960, a Rua Direita foi renomeada como Rua Padre Pedro Pinto, em homenagem ao famoso padre.
Hoje, Venda Nova é uma das nove regionais administrativas de Belo Horizonte, possui mais do que 265 mil habitantes e tem quase 82 mil domicílios, segundo censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Venda Nova comemora aniversário no dia 13 de junho, dia de Santo Antônio — seu padroeiro —, e faz 308 anos em 2019. Em comparação com Ouro Preto, uma das cidades mais antigas de Minas Gerais, a região é um mês mais velha. A paróquia Santo Antônio de Venda Nova, um símbolo antigo da devoção, completará 150 anos em agosto do mesmo ano.


Uma nova história


Desde 2015, a paróquia está sob a liderança do padre José Alves de Deus, conhecido como Zezinho pela comunidade. Ele já passou por diferentes igrejas de Venda Nova, como a de São Geraldo, no Bairro Piratininga, e a de Santo Inácio e São Judas, no Bairro Maria Helena. Celebrou missas no Santuário Arquidiocesano Nossa Senhora da Conceição, no Bairro Lagoinha, na Região Nordeste da cidade, e num templo do Bairro Jaqueline, no Norte de Belo Horizonte.
Natural de Carmésia, no Vale do Rio Doce, padre Zezinho veio ainda criança para Venda Nova e ressalta a ligação da igreja católica com a região. “Eu cresci aqui. Quando minha família veio do interior pra cá, eu tinha 8 anos. É minha paróquia de origem. Eu sempre participava (das celebrações), mas não sabia muito da história. Quando Dom Walmor (então arcebispo de Belo Horizonte e atual presidente da Conferência Nacional dos Bispos – CNBB) me transferiu para a Paróquia Santo Antônio, eu pude conhecer mais. É uma igreja que se confunde com a história de Venda Nova”, conta.


De acordo com padre Zezinho, a matriz teve influência na ocupação do Centro de Venda Nova, a partir do patrimônio de Santo Antônio. “Naquela época (século XIX), para se construir uma capela, o santo tinha que ter um patrimônio. Então, foi doado uma fazenda (Antônio Castro Porto) para Santo Antônio nessa região”, explica.
História à parte, o elo entre padre Zezinho e a população de Venda Nova também chama atenção.Enquanto o Norte Livre conversava com ele para a produção desta matéria, várias vezes fiéis tentavam falar com o pároco, sem perceber que se tratava de uma entrevista. O carisma e a educação marcam sua personalidade. José Alves de Deus ordenou em maio 1990 e vai completar 30 anos de dedicação à fé católica em 2020.
Sonho antigo dos fiéis, a nova igreja matriz de Venda Nova já está saindo do papel. Localizada ao lado da atual, o templo teve suas obras iniciadas no segundo semestre do ano passado e a intervenção deve custar cerca de R$ 7 milhões.


De acordo com padre Zezinho, não há previsão de término das obras, pois depende do fluxo de caixa da paróquia, que resulta das colaborações da comunidade. Segundo ele, a primeira etapa já foi vencida. Nela, os operários levantaram as paredes de contenção da estrutura e fizeram a fundação do terreno. Agora, a segunda parte compreende a primeira laje, que vai dar a cara do estacionamento subterrâneo da nova casa da igreja católica em Venda Nova.
Para avançar as obras, a igreja tem pedido aos fiéis a doação de sacos de cimento ou valores que podem reverter na compra do material. “Nós vamos precisar de 55 caminhões de concreto. Você que é devoto de Santo Antônio ou gosta de Venda Nova, junte a família e colabore com a gente. Nosso objetivo é dar esse segundo passo até 9 de agosto, a data de criação da paróquia”, solicita padre Zezinho.